Para além da Pintura
No inicio de 1961, Hélio Oiticica (1937 – 1980) escreve em seu diário que a era do fim do quadro havia sido inaugurada. Mas, ressalta o artista carioca, “longe de ser ‘a morte da pintura’, é a sua salvação, pois a morte mesmo seria a continuação do quadro como tal, e como ‘suporte’ da pintura”. Os cinco primeiros anos da década de 1960 marcam a pesquisa de Oiticica em busca de “um novo corpo da cor”, que não esteja restrito a bidimensionalidade da parede, – uma “nova ordem” no campo de produção artística, que antes englobava apenas categorias como pintura, escultura, desenho. Assim, nos bilaterais, relevos espaciais e núcleos, a cor salta para o espaço e, placas de madeira pintada. Toma corpo na forma de pigmento em pó nos bólides, em seguida adquire corpo arquitetônico, formando paredes nos penetráveis e continua como abrigo em panos que envolvem o corpo, a cor girando no espaço junto com o dançarino de samba que enverga o Parangolé.
De fato, a produção artista entre 1960 e 1965 é uma revolução no conceito de arte, um “salto radical”, nas palavras do crítico Guy Brett.
A grande contribuição de Hélio Oiticica é a passagem da pintura para a vida: o dia a dia é uma obra de arte. Escapando do quadro, a pintura evitaria ser confundida com um mero produto de mercado, e conduziria a arte a se aproximar de outras questões fundamentais para o ser humano.
Fundação Projeto Hélio Oiticica- 1981
Em 1981, os irmãos de Hélio Oiticica, Cesar e Claudio, diante da urgência do desafio de guardar, preservar, estudar e difundir a sua obra, formularam o Projeto Hélio Oiticica, uma associação sem fins lucrativos com esses objetivos.
Contando com a construção inicial de companheiros e amigos de Hélio, com os quais se formaram um conselho e uma coordenação, e com fundos provenientes da venda de obras de terceiros pertencentes ao acervo da família, instalou-se o Projeto HO em um apartamento no bairro do Flamengo, onde foram acondicionadas, além das obras, os arquivos e a biblioteca de Hélio e da família.
Primeiros anos – 1981 a 1996
Os membros do Projeto, apesar de trabalhando sem remuneração e durante suas horas de lazer, conseguiram uma série crescente de realizações entre as quais merecem destaque a publicação do livro de textos: Aspiro ao grande labirinto e as exposições retrospectivas realizadas em Rotterdam, Paris, Barcelona, Lisboa e Minneapolis com a edição dos respectivos catálogos. Além disso, houve a participação em 16 exposições no Brasil, sendo 10 coletivas e seis individuais e 12 exposições no exterior, sendo 11 coletivas e uma individual.
Centro de Arte Hélio Oiticica – 1996 a 2008
A partir da realização das exposições retrospectivas, tentou-se implantar no Projeto uma administração mais profissional, para que se pudesse sair da indigência operacional e avançar rapidamente no alcance das finalidades desejadas.
Em 1996, foi inaugurado o Centro de Arte Hélio Oiticica com a grande retrospectiva que tinha percorrido a Europa e os Estados Unidos.
No período que se surgiu, o acervo participou de 39 exposições no Brasil, 11 individuais e 28 coletivas, e de 51 exposições no exterior, sendo 9 individuais e 42 coletivas.
Reinauguração Centro de Arte Hélio Oiticica – 2021
O Centro de Arte Hélio Oiticica na Praça Tiradentes foi reaberto dia 05/11/2021, no Dia Nacional da Cultura, em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura do RJ e o Projeto Hélio Oiticica, com duas obras inéditas do Hélio Oiticica que fazem parte do acervo:
“PN10”: criado em 1971 para uma bolsa artística na Fundação Guggenheim, foi pensado para ser instalado no Central Park. O projeto em questão faz parte da série “Subterranean Tropicalia Projects” e, agora, 50 anos depois, será instalada na Rua Imperatriz Leopoldina, a céu aberto. É composto de estrutura metálica, madeira, vinil, lonas e telas de nylon. Os retângulos do projeto são lonas laranja para filtrar a luz que vai refletir no espaço interno vazio dentro da obra.
“CC2 On Object Private”: o segundo penetrável inédito vai ser montado no interior do equipamento e faz parte da série “Cosmococa Program in Progress”.
Arquivos Digitalizados
Um programa que vale ser ressaltado e que foi implementado em 2005 é o da divulgação dos arquivos digitalizados com os textos de Oiticica, disponibilizando-os para um número cada vez maior de estudantes e pesquisadores do Brasil e do Exterior que procuram o Projeto HO ávidos por informações para suas teses de mestrado e doutorado.
Esse apoio, especifico e permanente, é uma difusão diferenciada do pensamento do artista e também uma contribuição para a história da arte.
Equipe PHO
O pessoal do Projeto HO é treinado para trabalhar em equipe. O que os caracteriza é a flexibilidade, a união e o amor ao que fazem.
Jair da Rocha Oliveira, desenhista projetista, mago do Autocad, trabalhador incansável, atual em tudo que depende de projeto, desenho, precisão, perfeccionista e dedicação além de projetar e arrumar pessoalmente as reservas técnicas.
Ariane Pereira de Figueredo, pesquisadora rigorosa, trabalha no Projeto desde a pesquisa para a digitalização dos arquivos de HO, foi autora da cronologia definitiva de Hélio Oiticica e também é a nossa especialista em telas, tecidos, Parangolés, além de supervisionar a remessa e o recebimento de obras que vão e vêm.
Vanessa Ribeiro Sortica, excelente secretária executiva, cuida sozinha de tudo que é atividade administrativa, desde o financeiro, DP, passando pela comunicação, pelo controle, até as compras.
Cristiano Silva Fernandes, trabalhador incansável, começou como ajudante e hoje, graças a uma capacidade incrível de aprender tudo rapidamente, supervisiona e faz manutenção em todos os sistemas do prédio, ao mesmo tempo que ajuda a todos os outros funcionários.
Jorge Marcello Filho, arqueólogo de profissão, trabalha restaurando e recuperando as fotografias e cartas, além de realizar diferentes tarefas que lhe são solicitadas.
Nos serviços de apoio contamos com a nossa chef Olimpia Regina dos Santos Souza na cozinha e com Ana Sant’Ana de Figueiredo na arrumação e limpeza do escritório, ambas excelentes profissionais, pontuais e dedicadas.