Projeto HO

Hélio Oiticica foi um dos artistas brasileiros mais inquietos e mais radicais, não resta dúvida. Uma mente apolínea cavalgando num corpo dionisíaco. De um lado o olhar de um engenheiro e do outro a leveza de um passista. Hélio passou pelo mundo como um furação e deixou um mundo muito diferente depois de si.

Sua carreira foi marcada por uma explosão de formas e movimentos que ganhavam a cada momento uma nova dimensão. Da superfície plana do quadro alargou-se em Objetos, e dos Objetos expandiu-se para os Ambientes, e dos Ambientes atirou para a mais imprevisível das dimensões, a Vida, o movimento humano, a imprevisibilidade de uma pessoa que invade uma obra de arte.

Hélio foi um abridor de caminhos, um derrubador de barreiras, um artista sempre disposto a saber o que existia do outro lado do fim. Sua busca incessante dentro das formas da arte tinha tudo a ver, também, com a sua forma inquietante às vezes assustadora de viver a vida. Sentia-se nele uma urgência, uma aceleração de todos os processos, como se fosse preciso experimentar todas as linguagens antes que elas morressem de indiferença.

Em seus momentos mais sensoriais, sua obra é a história dos que sambam no carnaval, dos que para brincar na rua envolvem em objeto, em texturas, em superfícies, pelo simples prazer de se fantasiar. E quando vira os olhos para a vida depois da festa, ele conta também a história dos que caem crivados pelas balas da guerra sem assinatura, dos que servem corpos expiatórios para apaziguar a culpa coletiva. Uma de suas obras contribuiu para batizar o movimento Tropicalista, que, entre muitas outras contribuições, trouxe música popular brasileira um diálogo fecundo com as artes plásticas, com a musica erudita experimental e com a poesia de vanguarda. Tropicália Tornou-se símbolo de um momento do Brasil e de toda a obra do artista. Símbolo de um choque cultural entre dois hemisférios, entre dois continentes, em choque entre forças que vão e vem, que refluem e logo avançam de novo, uma verdadeira pororoca erguendo no ar os que se dispõem a ver por dentro esse mar de imagens, de signos, de temas, e de aspirações ao grande labirinto.

Por fim, deve-se dizer que a arte de Oiticica continua atual, e pode ainda cumprir um papel literário. Uma arte que vai na contramão do atual retrocesso de valores, representado pelo recrudescimento de segregações, por extremismos, ódios, racismo, homofobias, e por tentativas de legitimar a repressão as manifestações de liberdade e de sensualidade.

Por Juca Ferreira, Ex-ministro da Cultura.

Para além da Pintura

No inicio de 1961, Hélio Oiticica (1937 – 1980) escreve em seu diário que a era do fim do quadro havia sido inaugurada. Mas, ressalta o artista carioca, “longe de ser ‘a morte da pintura’, é a sua salvação, pois a morte mesmo seria a continuação do quadro como tal, e como ‘suporte’ da pintura”. Os cinco primeiros anos da década de 1960 marcam a pesquisa de Oiticica em busca de “um novo corpo da cor”, que não esteja restrito a bidimensionalidade da parede, – uma “nova ordem” no campo de produção artística, que antes englobava apenas categorias como pintura, escultura, desenho. Assim, nos bilaterais, relevos espaciais e núcleos, a cor salta para o espaço e, placas de madeira pintada. Toma corpo na forma de pigmento em pó nos bólides, em seguida adquire corpo arquitetônico, formando paredes nos penetráveis e continua como abrigo em panos que envolvem o corpo, a cor girando no espaço junto com o dançarino de samba que enverga o Parangolé.

De fato, a produção artista entre 1960 e 1965 é uma revolução no conceito de arte, um “salto radical”, nas palavras do crítico Guy Brett.

A grande contribuição de Hélio Oiticica é a passagem da pintura para a vida: o dia a dia é uma obra de arte. Escapando do quadro, a pintura evitaria ser confundida com um mero produto de mercado, e conduziria a arte a se aproximar de outras questões fundamentais para o ser humano.

 

 

Fundação Projeto Hélio Oiticica- 1981

Em 1981, os irmãos de Hélio Oiticica, Cesar e Claudio, diante da urgência do desafio de guardar, preservar, estudar e difundir a sua obra, formularam o Projeto Hélio Oiticica, uma associação sem fins lucrativos com esses objetivos.

Contando com a construção inicial de companheiros e amigos de Hélio, com os quais se formaram um conselho e uma coordenação, e com fundos provenientes da venda de obras de terceiros pertencentes ao acervo da família, instalou-se o Projeto HO em um apartamento no bairro do Flamengo, onde foram acondicionadas, além das obras, os arquivos e a biblioteca de Hélio e da família.

 

Primeiros anos – 1981 a 1996

Os membros do Projeto, apesar de trabalhando sem remuneração e durante suas horas de lazer, conseguiram uma série crescente de realizações entre as quais merecem destaque a publicação do livro de textos: Aspiro ao grande labirinto e as exposições retrospectivas realizadas em Rotterdam, Paris, Barcelona, Lisboa e Minneapolis com a edição dos respectivos catálogos. Além disso, houve a participação em 16 exposições no Brasil, sendo 10 coletivas e seis individuais e 12 exposições no exterior, sendo 11 coletivas e uma individual.

 

 

Centro de Arte Hélio Oiticica – 1996 a 2008

A partir da realização das exposições retrospectivas, tentou-se implantar no Projeto uma administração mais profissional, para que se pudesse sair da indigência operacional e avançar rapidamente no alcance das finalidades desejadas.

Em 1996, foi inaugurado o Centro de Arte Hélio Oiticica com a grande retrospectiva que tinha percorrido a Europa e os Estados Unidos.

No período que se surgiu, o acervo participou de 39 exposições no Brasil, 11 individuais e 28 coletivas, e de 51 exposições no exterior, sendo 9 individuais e 42 coletivas.

 

Reinauguração Centro de Arte Hélio Oiticica – 2021 

O Centro de Arte Hélio Oiticica na Praça Tiradentes foi reaberto dia 05/11/2021, no Dia Nacional da Cultura, em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura do RJ e o Projeto Hélio Oiticica, com duas obras inéditas do Hélio Oiticica que fazem parte do acervo:

“PN10”: criado em 1971 para uma bolsa artística na Fundação Guggenheim, foi pensado para ser instalado no Central Park. O projeto em questão faz parte da série “Subterranean Tropicalia Projects” e, agora, 50 anos depois, será instalada na Rua Imperatriz Leopoldina, a céu aberto. É composto de estrutura metálica, madeira, vinil, lonas e telas de nylon. Os retângulos do projeto são lonas laranja para filtrar a luz que vai refletir no espaço interno vazio dentro da obra.

“CC2 On Object Private”: o segundo penetrável inédito vai ser montado no interior do equipamento e faz parte da série “Cosmococa Program in Progress”.

 

Arquivos Digitalizados

Um programa que vale ser ressaltado e que foi implementado em 2005 é o da divulgação dos arquivos digitalizados com os textos de Oiticica, disponibilizando-os para um número cada vez maior de estudantes e pesquisadores do Brasil e do Exterior que procuram o Projeto HO ávidos por informações para suas teses de mestrado e doutorado.

Esse apoio, especifico e permanente, é uma difusão diferenciada do pensamento do artista e também uma contribuição para a história da arte.

 

 

Equipe PHO

O pessoal do Projeto HO é treinado para trabalhar em equipe. O que os caracteriza é a flexibilidade, a união e o amor ao que fazem.

Jair da Rocha Oliveira, desenhista projetista, mago do Autocad, trabalhador incansável, atual em tudo que depende de projeto, desenho, precisão, perfeccionista e dedicação além de projetar e arrumar pessoalmente as reservas técnicas.

Ariane Pereira de Figueredo, pesquisadora rigorosa, trabalha no Projeto desde a pesquisa para a digitalização dos arquivos de HO, foi autora da cronologia definitiva de Hélio Oiticica e também é a nossa especialista em telas, tecidos, Parangolés, além de supervisionar a remessa e o recebimento de obras que vão e vêm.

Vanessa Ribeiro Sortica, excelente secretária executiva, cuida sozinha de tudo que é atividade administrativa, desde o financeiro, DP, passando pela comunicação, pelo controle, até as compras.

Cristiano Silva Fernandes, trabalhador incansável, começou como ajudante e hoje, graças a uma capacidade incrível de aprender tudo rapidamente, supervisiona e faz manutenção em todos os sistemas do prédio, ao mesmo tempo que ajuda a todos os outros funcionários.

Jorge Marcello Filho, arqueólogo de profissão, trabalha restaurando e recuperando as fotografias e cartas, além de realizar diferentes tarefas que lhe são solicitadas.

Nos serviços de apoio contamos com a nossa chef Olimpia Regina dos Santos Souza na cozinha e com Ana Sant’Ana de Figueiredo na arrumação e limpeza do escritório, ambas excelentes profissionais, pontuais e dedicadas.